sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Espelho, espelho meu...nunca antes na história "destepaiz"

A frase acima não funcionou ao gosto de quem a pronunciou nem mesmo no conto de fadas. Um belo dia o espelho disse para a Madrasta que a Branca de Neve era a mais bonita, e deu origem à tragédia.

A imprensa nada mais é do que o espelho de uma nação. Vou melhorar isso: as notícias que a imprensa publica nada mais são do que o reflexo no espelho do que é uma nação. Pronto, melhorou.

Enquanto estas notícias - boas ou más - serviram ao PT - na situação ou na oposição - o espelho dizia o que convinha aos ouvidos de seus partidários, sindicalistas, movimentos sociais, blogueiros, jornalistas a soldo, enfim, a todo o universo que cerca o Partido dos Trabalhadores e assim a imprensa livre era não só desejável, como estimulada.

Mas como diz o ditado popular "hoje sou eu, amanhã é você" e o PT que era pedra virou vidraça. Lula, que sempre confraternizou com jornalistas quando era oposicionista, resolveu só tratar com eles através de discursos após chegar ao poder. Poucas foram suas entrevistas coletivas. Tirando isso, uma ou outra aparição em programas pré-arrumados e só.

O PT amigo dos jornalistas na oposição - que municiava e pegava munição contra adversários - virou o PT do "controle social da mídia" quando chegou ao governo, seja lá que diabos um "controle social da mídia" possa ser.


O "partido da ética" mostrou na prática que era apenas mais um partido como qualquer outro. Decepção para alguns, constatação imperdoável para quem já se considerou o dono desta ética, coisa mais do que normal para o comissariado do partido, que levou ao pé da letra o princípio de que "não dá para fazer política sem botar a mão na m*", como disse o histórico petista Paulo Betti, numa defesa apaixonada do que foi a relação do governo Lula com o Congresso Nacional de Collor, Sarney e Renan Calheiros, entre outros.

Ao fim de quase oito anos de poder, o PT apresentou ao Brasil a apropriação de méritos alheios, o Mensalão, os aloprados, as quebras de sigilo fiscal de adversários, o aparelhamento do estado, o nepotismo, a transformação da Casa Civil em balcão de negócios, mas o único problema que o partido enxerga nisso tudo é a imprensa, que noticiou os seus malfeitos.

Nota-se que o problema do PT não é com as práticas nocivas ao país que alguns de seus políticos adotam, e sim com o fato disso ser descoberto e tornado público. Se fosse jogado para debaixo do tapete ou sufocado dentro do armário, para virar um esqueleto do cadáver que já foi um dia a tal "ética" da qual o partido se apoderara, estaria tudo bem.

A falta de punição interna para Antônio Palocci e José Dirceu - que inclusive fazem parte do alto mandarinato do partido - é a prova de que o PT não tem problema com os desvios que pratica e sim com o fato de ser pego por eles de vez em quando.

E é claro, sobre quem mais poderia cair a responsabilidade senão sobre o pobre espelho, a imprensa? É "golpismo" denunciar corrupção. É "querer ganhar no tapetão" falar sobre o envelope fechado - verdadeiro atentado ao país - que eles apresentam como candidata a presidência. É "coisa de elite" desejar que o dinheiro pago em impostos não vá parar no bolso de pelegos, ONGs, blogueiros e toda sorte de miliciano ideológico que o partido sustenta para manter seu naco de poder. Percebem a inversão de valores?

No final das contas, é culpa da mídia - pobre espelho - se quando eles olham seu reflexo vêem algo feio de doer. Mais fácil quebrar o espelho do que consertar a feiúra.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

De onde viemos?

"Não possuo, como deveria, a alma dentro do corpo, mas sim o corpo dentro da alma!"

Posso me considerar uma pessoa de sorte. Afora uma infância feliz, uma juventude plena e algumas conquistas pessoais, pude conhecer bem duas bisavós - uma faleceu quando eu tinha 13 anos e a outra quando tinha 17 - por isso suas lembranças são vívidas em mim, não um mero borrão de um passado distante, mas lembranças de uma convivência intensa.

Uma delas morava num sobrado no bairro carioca de Vila Isabel. Fazia um bife acebolado que nunca mais comi igual e era uma portuguesa forte, altiva, severa e, no entanto amorosa. Nunca houve amor maior do que o que ela dedicou a cada um dos seus sete filhos, numerosos netos e bisnetos.

A outra morava na cidade de Vassouras, terra de barões do café e de muita história. Era uma senhorinha magra, de olhos vivos e com uma beleza que apesar de seus quase oitenta anos teimosamente se mostrava através do olhar, do queixo bem feito, do sorriso ainda moço.

Por isso foi grande a surpresa ao descobrir que os versos que abrem este texto são de autoria de uma das irmãs dessa minha bisavó - com olhos incrivelmente iguais aos dela - a escritora Cinira do Carmo Bordini, ou simplesmente Carmen Cinira. Minha tia-bisavó, se é que isso existe.

De vida meteórica - morreu aos 31 anos - ela foi ao mesmo tempo linda e trágica, encantadora e triste. Contraiu tuberculose cuidando do marido, famoso jogador de futebol na época, que caíra doente - grande amor de toda a sua vida.

Viúva aos 20 anos, o escritor Humberto de Campos, que a conheceu, descreveu-a assim em uma de suas crônicas, após um encontro na Academia Brasileira de Letras: “Morena, grandes e profundos olhos turcos, de veludo negro, trazia nos traços e, nessa tarde, no vestuário, os atributos de uma jovem princesa oriental. Toda ela era graça infantil e atordoada, de borboleta que acaba de sair da crisálida e penetra num rosal, tonta de sol e em luta com o vento da manhã primaveril.”

Os mesmos olhos da minha bisavó

Esteve muito à frente de seu tempo, era independente e através de sua arte desafiou as convenções que "condenavam a mulher a ruminar seus sonhos de amor em silêncio", solidarizou-se com "aquelas que lutam, que trabalham, que se esfalfam por um lugar ao sol, no grande labirinto das competições, das reivindicações nobres e justas",  tornando-se inesquecível pela força do seu talento.

E apesar de ser mulher, o que não era necessariamente algo facilitador para uma escritora no início do Século XX, e de ter falecido tão cedo, deixou quatro livros publicados: Crisálidas, Primeiros Vôos, Grinalda de Violetas e Sensibilidade, todos fora de catálogo, só sendo encontrados em sebos e lojas de livros raros.

Sua obra, no entanto, tem tamanha força que basta procurar pelo seu nome na internet que é possível achar vários de seus poemas. Já após sua morte, o médium Chico Xavier psicografou textos que supostamente são de autoria de Carmen, o que não é de todo impossível, visto que uma alma tão inquieta assim jamais se vai completamente.

Um de seus amigos, no prefácio de "Sensibilidade" - seu último livro, só publicado após sua morte - dizia que nunca vira olhos tão lindos e que chorassem tanto. Em seu último poema - simplesmente intitulado "Vida" - já doente, ela dizia: "Vida, que és boa para tanta gente, E a tanta gente embriagas de prazer Para mim foste má, foste inclemente, E deixaste-me exausta de sofrer!"

Incrível que ainda hoje uma escritora que morreu no início do século passado, após uma vida tão breve, ainda possua fãs que são netos e bisnetos de seus contemporâneos e a despeito de tudo o que sofreu em vida, tenha deixado obra tão rica de beleza.

Descobrir um parente desses não é coisa que acontece todo dia. Grata descoberta essa de saber de onde viemos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Rent-a-Tweet ou "dou RT por comida"

"Eu quero ganhar a camisa oficial da #LojadoChato2010! Siga a @lojadochato, dê RT e participe. Saiba + www.lojadochato.chato.pra.kct"

Quem sai na chuva, é pra se molhar. Quem entra no Twitter é pra se aporrinhar, várias vezes, por vários motivos. Se já não bastassem os joguinhos, as brincadeiras bobas, as correntes e todo o "conteúto-Orkut" disponível, algumas empresas resolveram que espalhar spam em forma de promoções é a melhor maneira de divulgar seus produtos e serviços.

Começam criando um perfil no Twitter, passam a seguir algumas pessoas e aí iniciam mais ou menos a mesma pática: estabelecer metas de seguidores - "quando atingirmos 10 seguidores sortearemos um chaveiro" - e pedir que as pessoas dêem RT (retweet, ou seja, repassar a mensagem adiante) em promoções esdrúxulas tipo "Dê RT e concorra a um desconto de 5% na compra de uma latinha de Red Bull".

Não sou especialista em redes sociais, em divulgação na internet, viralização e todo esse blablabla que é estudado e debatido em fóruns e congressos, mas entendo um pouco de consumo - já que eu mesmo sou um consumidor - e tenho certeza de que esse tipo de ação promocional só queima o filme da marca.


Primeiro contigo, que não deseja participar dessas chatices e no entanto recebe as mensagens do mesmo jeito, já que em todo grupo de pessoas existem aqueles que se especializam em adotar todo modismo e prática cretina, e fatalmente você seguirá alguma delas no Twitter. 

É o que costumo chamar de "cota do chato", todo mundo precisa reservar 20% das vagas do seu círculo social para eles.

Depois, queima o filme entre os próprios chatos que repassam as mensagens, porque canso de ver alguns reclamando que "dão RT em tudo, mas nunca ganham nada". Uma pena, pois eu acho que todos eles deveriam ganhar um chute no olho.

Não entendo muito esse fetixe por ganhar coisas de graça. Não me leve a mal, é uma delícia chegar num lugar e ser recebido por uma bela mocinha que te presenteia com uma camiseta, um CD, uma caneta ou qualquer outro brinde, mas é algo totalmente diferente você passar os dias em sites de brindes, preenchendo formulários, enviando emails ou dando RT em mensagens no Twitter, tudo isso só pra no final ganhar um chaveiro que você mesmo não compraria nem por R$ 1,00 no camelô da esquina.

Porque acredite: tirando brindes vagabundos e chutes no olho, a chance de você ganhar um iPhone porque participou de uma promoção bizonha na internet é a mesma de ganhar numa loteria. No lugar dessas pessoas, eu particularmente preferiria investir na loteria.

Mas como vivemos num país livre, eu exerço meu direito de bloquear sumariamente qualquer um que me repasse tais promoções e essas pessoas, se quiserem, podem continuar a exercer orgulhosamente o seu papel de mendigos virtuais.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O "decisômetro" do Lula

Peter Pan na dose certa não mata

A psicologia define do Complexo de Peter Pan como "uma compulsão em que homens e mulheres desejam manter-se sempre jovens e por essa razão se descuidam do papel adulto ou das responsabilidades, sem assumi-las". É raro encontrar alguém que nunca tenha experimentado esse sentimento, ainda que por um breve período, ou que pelo menos não conheça alguém que se encaixe nessa descrição.

Me permitam a licença poética aqui para dizer que isso tem um lado bom e um lado ruim, como aliás se dá com quase tudo - menos axé music e novelas de TV, que só tem lado ruim - e o lado bom disso é você não deixar sua mente envelhecer demais, ficar madura demais, chata demais.

As pessoas mudam, isso é inegável, mas pouca coisa incomoda mais do que reencontrar um amigo e ver que, por obra dos anos, ele se tornou um completo estranho. Vivi épocas que até hoje deixam uma saudade imensa, e é claro que estas épocas estão diretamente ligadas às pessoas que participaram delas comigo.


É fatal ir a certos lugares e me sentir como se estivesse numa máquina do tempo. Voltar a algum bar, alguma boate, alguma festa que já não ia há anos e encontrar tudo ali, como se o tempo tivesse parado. O mais bizarro entretanto é olhar os rostos e já não encontrar conhecidos, ainda que os que estejam ali pareçam apenas ter trocado de roupa com os antigos, continuando a agir igualzinho. Viagem, né? Muita.

Tem gente que eu até sinto saudade, mas juro que prefiro nem reencontrar, sabe porque? Porque é simplesmente frustrante - diria até deprimente - encontrar um amigo de infância e ver que ele se tornou um orgulhoso senhor de meia idade.

Não digo com isso que seria legal esbarrar com este mesmo amigo e ouvir dele algo como "E aí, cara, beleza? Vamos incendiar umas lixeiras sábado à noite?", como se ainda fossemos adolescentes entediados trancados num condomínio.

Um meio termo é legal. Nossos trabalhos, nossos problemas, nossas famílias formadas e até mesmo nossas crianças, não nos definem completamente. Ainda somos indivíduos, ainda somos os mesmos, só com um pouco mais de bagagem (e em alguns casos, alguns quilos também).

Não tem nada demais ir para um bar, beber, olhar as moças bonitas que passam e simplesmente viver o momento, a antiga amizade, reviver um pouco aquele perfume de novidade que nos embriagou no início da juventude. Os lugares estão ali, quase todos, as pessoas também, quase todas, por isso não custa fazer uma pausa no que nos tornamos e, num momento Peter Pan, voltar a ser um pouco o que já fomos.

Nossa vida real - alguns diriam normal - continuará ali nos esperando, junto com o tempo, que não perdoa.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O desastre do Brasil é o brasileiro

Que ninguém me acuse de dizer que o Brasil é um país feio. Não seria louco de afirmar isso, mesmo porque conheço várias partes dele e acho cada uma delas linda de forma particular. Só que o Brasil é um país de cenários exuberantes, com paisagens de tirar o fôlego de qualquer um, e aí reside a minha diferença com a maioria dos brasileiros, que se acham herdeiros naturais de toda essa beleza.

Quando vejo algum cidadão daqui dizer  "meu país é lindo!", não posso deixar de concordar, mas ao mesmo tempo penso numa pergunta silenciosa "e o que você fez para ele ser bonito assim?". 99% dos cidadãos - caso fossem honestos- poderiam responder: nada.

Algumas cidades do mundo não são tão favorecidas pela natureza, no entanto as pessoas que ali viveram foram - ano a ano, década a década, século a século - construindo uma beleza "human made".

Prédios, pontes, ruas, monumentos, vão formando o que acaba se tornando uma linda cidade, fruto do que seus cidadãos criaram. Seja no meio de uma planície sem graça, seja no meio de um deserto inclemente, seja em locais onde o meio-ambiente é selvagem.



O Brasil não. Exceção à sua capital, Brasília - que alguns acham de mau gosto, mas eu acho bonita - o que existe aqui foi a natureza que criou ao seu modo. Se formos analisar friamente só o que o povo daqui construiu, encontraremos em sua absoluta maioria cidades abaixo da crítica.

Favelizadas, caóticas, ruas apertadas, calçadas estreitas, prédios gigantescos em formato de caixotes bem ao gosto da especulação imobiliária, rios poluídos, transportes sucateados, lixo espalhado. Vamos admitir: a obra do brasileiro não está a altura daquilo que ganhou de mão beijada.

O que o povo daqui fez foi simplesmente sabotar o que a natureza lhe deu de presente. Das águas da Baía de Guanabara, palco da chegada da corte portuguesa - e que já servia de penico para a população desde aquele tempo - até as dunas destruídas no Nordeste para abrigar condomínios de luxo (e gosto duvidoso), em cada município brasileiro veremos exemplos de como o povo que tanto se orgulha da beleza do "seu" país consegue atentar contra esta mesma beleza.

E não olhe pro sujeito ao lado com raiva, pensando "desgraçado, está destruindo tudo" ou comece a xingar os políticos, porque se você joga lixo no chão, você é outro responsável tal qual o cara aí do lado ou qualquer prefeitinho sem-vergonha que libere alvarás para a especulação imobiliária, permita a favelização em troca de votos ou não cuide dos rios de sua cidade.

Não sou ecochato, longe disso, mas acho que a evolução e o progresso podem - e devem - ser acompanhadas de bom gosto.

Todo país sofre com seus desastres naturais. O desastre do Brasil, até aqui, tem sido o brasileiro.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

De um alienígena para o outro: "humanos são cruéis, expõem os medíocres na TV"

Ontem foi o dia da entrega dos prêmios do Video Music Brasil - VMB 2010 - promovido pela MTV.

Soube do prêmio por conta do Twitter, que faz questão de reverberar qualquer lixo até que suas ondas cheguem aos mais distantes grotões. Peça a um usuário do Twitter brasileiro para replicar um pedido de ajuda e você ouvirá piadas. Peça ao mesmo usuário para replicar uma piada idiota e ela chegará até Marte.

Eu não assisto a MTV. Nada contra quem assiste, mas já foi o tempo em que era um bom canal para conhecer algumas coisas novas, ver programas moderninhos e ouvir um som legal. Hoje a MTV é uma espécie de caixa de som daqueles rappers americanos medonhos, dessas cantoras que gritam mais do que uma gralha epilética - estilo Beyoncé -  e de artistas medíocres do cenário pop musical brasileiro.

Quero dizer que todos são medíocres? Não. Mas que os medíocres são os que mais sobressaem. Se pensarmos bem, esse mundo pop nacional é formado basicamente por alguém que é filho de alguém, esposa ou marido de alguém, deu pra alguém ou comeu alguém. Novamente digo: pouca coisa escapa.


Não vou citar nomes, para não parecer que é pessoal, mas basta ler a lista de indicados e vencedores do Video Music Brasil ou mesmo do Prêmio Multishow que você entenderá o que digo. Bandas representantes desse estilo homo-retartado-colorido de rock, cantoras mirins, artistas que estão há 20 anos fazendo a mesma coisa - entenda-se: sem criar um sucesso novo desde quando ainda existia o Banco Nacional - e uma imensa profusão dos "filhos de quem", "maridos de alguém", "ex-namoradas de fulano".

Por isso eu digo que se um alienígena captasse por acidente as ondas da MTV, provavelmente diria para outro "como esses terráqueos são malvados, eles pegam os toscos, os desprovidos de talento, os medíocres e expõem ao ridículo na TV, como que para todo mundo ver aquilo e fazer questão de ser diferente, um verdadeiro horror!".

Porque a grande parte do jet set cultural brasileiro é bom mesmo para encher revistas de fofoca, aparecer em novelas para o populacho, encantar os idioteens, cantar músicas ridículas ou fazer cópias-pirata do que já existe lá fora, de cultural mesmo não tem quase nada.

Existem exceções? Claro! O Brasil possui artistas valorosos, gente que produz trabalhos de qualidade indiscutível, mas estes geralmente estão fora dessas premiações.

Razão pela qual o alienígena poderia não estar de todo errado.
 
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