segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Nascer, crescer, procriar

A sociedade espera muito de nós, quem não sabe disso? Seja como for e em qualquer época da vida, sempre temos um script que nos cabe representar.

Estudar, trabalhar, sair da casa dos pais, casar, ter filhos, educá-los, ter netos, deseducá-los, caducar e morrer.

Qualquer coisa que fuja muito disso é considerado "estranho".

Nem falo de "jovens" de 40 anos que moram com a mãe, brincam de personagem de seriado de TV na internet e se auto-intitulam "probloggers", falo de coisas bem menos bizarras.

Conto isso porque já passei dos 30 e alguns (risos), já morei sozinho em duas ocasiões, uma quando fiz faculdade fora da minha cidade e a outra mais recente, quando saí da casa da minha mãe e fui viver a aventura, as agruras e delícias de ter a sua própria casa.

Quer dizer, eu meio que cumpri o script social satisfatóriamente: estudei, fui trabalhar, saí da casa dos meus pais e tal...mas dia desses me deparei com uma afirmação de uma pessoa que tinha acabado de me conhecer mais ou menos assim: "Poxa, mais de 30 e solteiro até hoje?Nunca casou?Nunca teve filhos? Muito estranho! Ou você é um galinha ou então aí tem...".

Na verdade eu acho que a resposta para a análise que fizeram de mim é simples: posso ser viado, posso ser galinha, posso ter alguma outra coisa estranha ou então eu simplesmente nunca quis casar mesmo, porque acho que isso é meio sério demais pra ser tratado simplesmente como "etapa de vida" a ser cumprida.

Vejo amigos meus que casam com aquele pensamento "Tá na hora, vou casar", só pra separarem dali a 2, 3 anos. Enquanto estou no zero casamentos, já tenho amigos que estão no segundo, terceiro, com filhos em cada um deles e muitos cabelos a menos.

Veja, não digo que abomino tal instituição que muitos chamam carinhosamente de submarino (pode até boiar, mas foi feito pra afundar), só acho que o casamento (e consequentemente ter filhos), é o resultado final de um processo um pouco mais natural do que contém a frase "Nossa!Já namoraram demais! Tá na hora de casar!".

Óbvio que quero tudo isso, principalmente filhos, mas não considero isso um projeto de vida tão racional quanto juntar grana pra comprar um carro ou fazer uma viagem ao Japão, projetos esses nos quais guardamos dinheiro, planejamos e executamos.

Deixar tudo ser natural é bem melhor e estou chegando lá desse jeito, mesmo que seja um "pouquinho" mais devagar.

Mas quando penso nisso lembro das minhas amigas mulheres que já são balzacas, grande parte delas já com aquele pensamento "melhor um traste na mão do que ficar pra titia". É o medo de não dar tempo de virar MILF.

Tudo fruto dessa cobrança que o script social nos faz.

O que acho disso tudo é simples e resume-se a uma única constatação: muita gente pergunta para nós se "estamos bem no trabalho", "se não vamos casar", "se não está na hora de ter filhos", mas quase ninguém pergunta "você está feliz?".

Talvez seja porque nossa felicidade só diga respeito a nós mesmos e porque é com ela que devemos nos preocupar, já que temos a sociedade inteira pra tomar conta de todo o resto.

10 comentários:

Silvio Araujo disse...

Muito bom! O artigo se resume no último parágrafo: o que importa é a nossa felicidade! Seja feliz, cara!

Media Lunna disse...

Olá! adorei seu texto!!! Eu ouço muito "você não pode ficar sozinha!", "vc tem que arrumar alguém, arrumar filho, pq senão vai chegar aos 50 sozinha e titia". Ouvia muito da minha mãe, lá nos meu 20 e poucos: "NA SUA IDADE EU JÁ TINHA VC E SEU IRMÃO, MORAVA SOZINHA E SUSTENTAVA UMA CASA". Se estou em vantagem ou desvantagem, só o tempo dirá. Hoje moro sozinha pq minha mãe faleceu, tenho 28 anos, trabalho, tenho meus amigos, tenho saúde, pago minhas contas. Se sou feliz? Isso depende da época do mês, se ninguém me enche o saco, se estou com alguém agradável... Mas sou! Tenho meus altos e baixos como todo mundo... Acredito que o amor não é condição para a felicidade, e sim, a própria felicidade... E esse amor não é só aquele que vc sente por outra pessoa, é também o amor próprio, que não tem nada a ver com egoismo e vaidade, e sim o direito de estar bem consigo mesmo... E eu... estou tentando.... rs

Fernanda disse...

O que mais conheço é gente que se casou porque achou que "estava na hora". E todos esses conhecidos, sem exceção, se separaram rapidamente ou mantiveram a relação por preguiça ou medo de se divorciar. Todos se confessaram infelizes para mim em algum momento.
Em meu último relacionamento, que durou 5 longos anos, sofri "n" cobranças porque já estava "namorando há tempo demais" e "já estava na hora de casar". Ninguém nunca me perguntava se era isso que eu queria, se o sujeito tinha características compatíveis o suficiente para viver sob o mesmo teto que eu, se eu pensava em constituir família. O engraçado é que meu parceiro - apesar de negar - ia bem de acordo com o "fluxo da vida" e ia acabar se casando comigo cedo ou tarde (não por amor, mas porque para ele "é assim que funciona").
O resultado é que eu não consegui me enxergar ao lado de alguém que estava na vida só para seguir o velho "nascer, crescer, reproduzir, morrer". Precisava de alguém mais arrojado, por isso optei por me separar.
Hoje, 9 meses após o fim da citada relação, continuo solteira em termos de "aliança e papel passado", mas me relacionando com alguém que me faz muito bem. E o tal ex-parceiro ficou noivo em tempo recorde de alguém que tem a mesma mentalidade do "vou casar porque está na hora".
Aí eu pergunto: quem vai ser mais feliz? Quem segue a própria vontade ou quem vai atrás do reloginho acertado por terceiros? Não vou ser tão prepotente a ponto de responder isso agora, mas daqui a uns anos eu te conto. ;-)
Abraço!

Nana disse...

Eu cumpri esse script: estudar, trabalhar, sair da casa dos pais, casar, ter filhos, separar... Não foi planejado, talvez se eu tivesse planejado minha vida melhor, nada disso tivesse acontecido ainda...

Madamefala disse...

Vc me seguiu no twitter e eu vim aqui ver teus trab.Gostei dos textos, do visual, mas principalmente das fotos.Paabéns seu moço...muito legal.

Quanto a casar, é a " lei da vida" na sociedade...uma visão antiga que só se está completo assim, mesmo que esse casamento só dure um mês.Se vc está feliz solteiro,e já passou dos 30 ou tá perto vc de fato é " estranho"...rs

beijo!

Amanda Mattos disse...

Qual é a hora certa para casar?? Não sei, se eu soubesse estaria casada, quando eu souber casarei e se nunca souber,que mal tem??

Sabe, quanto a filhos botei uma coisa na minha cabeça: Só os terei quando tiver curtido muito, conhecio 90% dos lugares que quero conhecer (talvez todos ) e estiver disposta a dedicar a minha vida a outra vida sem (grandes) riscos de me arrepender disso.

Viver é um negócio complicado e muito arriscado, a grande sacada é ter o foco na felicidade, fazer o que te faz feliz, como te faz feliz e quando te faz feliz! O resto é só resto e claro, tomar cuidado para não passar por cima de ninguém, isso não é legal!rs

Mais um ótimo post, seus posts sempre são ótimo...

Fabi disse...

Nossa, gostei muito! Penso bem parecido...
Ser mulher, ter 24 anos, não ter namorado e aguentar todos os seus amigos casando pq tá na hora não é fácil. Ouvir as críticas dos recém-casados (ainda felizes), quando você está num relacionamento sem futuro também faz parte do meu universo. Enfim, a cobrança social existe, sei lá, talvez seja um extinto de sobrevivência e preservação da raça. Mas por enquanto (e espero que por muito tempo) continuo optando pela minha felicidade, não por simples convenções.
Parabéns pelo post!

Ana disse...

Alguém te pôs uma pressão recentemente, né, hahaha fala pra mim... Brincadeirinha, me identifiquei com todas as linhas do seu artigo social... bacana. bjs

Isabel disse...

Hummm.... Estamos chegando lá desse jeito???? rss
Vc, como ninguém, sabe como as coisas aconteceram de forma turbulenta na minha vida (filha, mudança de casa, etc), mas no final as coisas se acertam. As pessoas só se acomodam quando acreditam que não pode ficar melhor, e sempre pode melhorar sim, mas é preciso arriscar.
Quem sabe agora, no nosso tempo (por mais que seja devagarinho), a gente cumpra esse script com um final feliz e duradouro... :)

Cecilia disse...

Seja por hipocrisia ou seja por uma visão romantizada do mundo, 90% das pessoas realmente seguem um script de vida pouco flexível. Eu já tentei seguir e previsivelmente( ou não) dei com os burros n´água. Com a maturidade e com alguns tapas na cara algumas pessoas se tornam menos hipócritas e começam a pensar mais em si.

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