sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O grande balneário

Sei que vou abusar da metáfora aqui, mas o que posso fazer se esta vive invadindo a minha mente?

Sou nascido e criado no Rio de Janeiro e como todo bom carioca, às vezes esqueço aquele que é o maior motivo de sua fama mundial e também sua principal vocação: ser um balneário.

Como moro em uma rua que está cheia de hotéis e hostels, sinto essa sazonalidade mais do que alguém que mora confinado num dos distantes, quentes e mal cuidados subúrbios cariocas, onde o tempo passa e parece que nada muda.

Na Zona Sul, mais precisamente no subúrbio localizado na Zona Sul chamado Catete, as coisas ainda sofrem a influência do turismo, para o bem e para o mal. Contamos com infra-estrutura e serviços um pouco melhores do que o resto da cidade, mas também vemos a horda de "gringos" invadir nossas ruas quando se aproxima o reveillon, trazendo consigo os trombadinhas e as putinhas que desejam tomar seus dólares, só indo embora após o Carnaval, mais ou menos quando as "águas de março" já são uma ameaça perceptível a levar pelo menos um pouco do sufocante calor que faz nos dois primeiros meses do ano.

E quando o calor e os gringos começam a sair de fininho é que vejo bem nossa vocação de estação de verão.

Começo a ouvir menos idiomas diferentes no metrô, os trombadinhas continuam lá mas voltam a lembrar dos "brasileiros" para pedir esmolas, as "mariposas" que fazem as vezes de namoradinhas dos turistas desaparecem, montes de malas ficam à espera de micro-ônibus e taxis para levá-los ao aeroporto, os batuques diminuem bastante, as gringas loiras de calcanhar imundo desaparecem.

Sei que é exagero dizer que podemos sentir a cidade "esvaziar" com esse movimento, afinal, trata-se do caótico e superpopuloso Rio de Janeiro, mas ela fica com menos aparência de miscelânea e isto é um fato.

Volto a conseguir frequentar locais que tornam-se impraticáveis de tão cheios no verão, começo a vislumbrar a possibilidade de marcar uma saída após o trabalho sem antes ter que ir em casa trocar a roupa ensopada de suor, posso ir numa casa de sucos sem observar o atendente desesperado tentando explicar pra um sueco o que é "maruacudjááá".

Vão-se embora também as siliconadas-preparadas-turbinadas-quase-irreais beldades que passeiam por ensaios de escolas de samba, blocos e pela Sapucaí. Às vezes tenho até a impressão de que essas mulheres ficam guardadas em alguma caixa de sapato durante o ano e só saem dali no Carnaval.

O Rio de Janeiro, ainda que cheio de problemas e favelizado, abandonado, enfeiado, sujo, volta a ser um pouco só de seus habitantes, para o bem e para o mal, e a sensação que me causa é de ser um desses "caiçaras" de cidades praianas, que vêem sua rotina acalmar quando o exército de veranistas se vai no final do verão.

Já sem o Reveillon e o Carnaval em vista, a cidade volta a ter algo mais perto de uma rotina, e talvez (tomara) até a Madonna e a Paris Hilton nos esqueçam pelo menos até o ano que vem.

2 comentários:

Andrea disse...

Adorei seu post. Concordo com as coisas que vc citou e acrescento algumas: paulista costuma dizer que moramos num balneário, quando vc retorna do sul e se depara com a sujeira do Rio, a sensação é deprimente e a concentração/divulgação de coisas boas infelizmente estão/chegam 1° na Barra e nos bairros da Zona Sul (já morei em trocentos bairros e sei como é isso). Apesar de tudo, o Rio tem um borogodó que ninguém sabe (todos especulam)mesmo com toda a favelização, sujeira, safadeza e violência.

kacau disse...

Lendo seu post, parece uma especíe de desabafo, tipo para tudo que eu quero descer, pode parecer falso mas o RJ não me apetece, os meus cursos de design no UVA, os estágios que não tem aqui, mais facul públicas ai sim e todos com preços mais acessíveis que aqui. Mas não posso fazer uma critica do que nunca vi e olha que o primeiro lugar que iria seria a Lapa pra já ir me acostumando...


Carol

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