quinta-feira, 29 de abril de 2010

Adoção de crianças por casais homossexuais

O STJ, em decisão histórica, reconheceu o direito de um casal homossexual adotar uma criança e registrá-la como sua filha. Esta decisão encerra uma questão polêmica e que acende paixões, mas que deve ser comemorada na minha opinião.

Ser gay, ao contrário do que dizem e acreditam algumas pessoas, não é uma opção, não é uma doença, não é uma degeneração, não é um atestado de incapacidade social, cultural ou familiar. Quem é gay o é independente de sua vontade.

Quantos casais heterossexuais maltratam seus filhos, abandonam suas crianças, negligenciam, abusam, roubam suas infâncias das mais variadas formas? Isso quer dizer então que heterossexuais devam ser considerados incapacitados para adotar crianças? Não. Isso quer dizer que ser homo ou hetero são não são prefixos que nos permitam fazer qualquer avaliação justa.

A imoralidade, a corrupção, a indecência de comportamento é compartilhada por heterossexuais e homossexuais, não sendo portanto relacionadas à sexualidade de ninguém.

Dito isto, podemos pensar na situação das crianças órfãs e abandonadas que estão espalhadas por todo o nosso país, ponderando lucidamente sobre o destino que desejamos que elas tenham.

Em condições normais, um casal heterossexual deve sim, ter a preferência na adoção de crianças, pelo simples fato de ser o mais próximo de uma "família" que essas crianças conhecem e conhecerão no decorrer de sua vida. Isso não é preconceito, isto é um fato.

Sendo bons pais e boas mães, o questionamento das próprias crianças e posteriormente do seu círculo social será infinitamente menor e isso deve ser levado em conta, ainda que esta opinião possa desagradar algumas pessoas.

Mas se um casal homossexual tiver melhores condições de dar a esta criança uma infância feliz, educação, saúde e, principalmente, amor, não vejo razão para que esta adoção seja impedida sob qualquer pretexto.

Casais heterossexuais saudáveis optam por ter seus próprios filhos. É um instinto e um sonho que ninguém pode condenar. Por este motivo sobram menos famílias dispostas a adotar crianças do que o contingente delas que se amontoa em orfanatos e instituições semelhantes pelo país.

Logo, por mais diferente e estranha que possa parecer a situação de uma criança sendo criada por dois pais ou duas mães gays, esta é uma situação que não é nem de perto tão cruel como a realidade destes meninos e meninas que estão por aí abandonados, muitos nas ruas, sem um lar que possa ajudá-los a se transformar em homens e mulheres que estarão inseridos na sociedade como indivíduos produtivos, felizes, enfim, como cidadãos e não frias estatísticas.

Homossexualidade não é "contagiosa", homossexualidade não se ensina. Se valesse essa regra, o contrário também valeria e veríamos por aí vários cursos "ensinando" como a pessoa pode se tornar heterossexual.

Pode acontecer de alguma criança adotada por um casal homossexual vir a ser homossexual na idade adulta? Sim. Mas não será por conta dos pais e sim porque ela assim seria em qualquer ambiente, em qualquer família.

O normal será esta criança viver num ambiente onde haverá amor, condições financeiras para que ela tenha educação, lazer, saúde. Claro que ela verá brigas, desarmonia, períodos mais difíceis da vida. Mas qual família não passa por tudo isso? O mais importante é que ela terá em seus pais (ou suas mães) aquelas pessoas com as quais sabemos que podemos contar, nosso porto seguro para todas as horas, nosso lar.

Seria muito cruel que o estado, em nome de valores supostamente morais que estão ultrapassados e são insensíveis a problemas reais, impedisse que pessoas psicológica e financeiramente capazes pudessem amar, ser amadas e dar a uma criança a oportunidade de ter uma infância feliz e uma vida plena.

Venceu a razão.

14 comentários:

rafacasimiro disse...

Não vejo problema nenhum , e sim uma grande evoluçaõ aos qeu tantos são recriminados e agora estão conseguindo direitos na sociedade

Isabel disse...

Acho que temos dois casos recentes para avaliarmos: um é este que vc citou, do casal de mulheres gays que conseguiu adotar uma criança. Outro é da promotora que adotou uma menina de 2 anos e foi acusada de tortura. Muitas adoções são recusadas para casais homossexuais, enquanto crianças acabam sofrendo nas mãos de pessoas como esta mulher. Eu me pergunto se ela passou por uma avaliação tão rigorosa quanto é feita aos casais homossexuais, ou se o cargo, o status e a posição social contaram mais... Acho que qualquer pessoa ou casal, independente do sexo e da orientação sexual, deve ter o direito de adotar uma criança. Mas deve-se fazer uma avaliação criteriosa para evitar que essas crianças acabem sofrendo ainda mais com a adoção.

Alana disse...

Fiquei feliz ao ler sua opinião sobre adoção por casais homoafetivos. Concordo que a opção sexual da pessoa não define seu caráter...além disso,é uma chance de oferecer um lar e educação adequada aos que, muito provavelmente, ficariam abandonados à própria sorte. A sociedade está mudando e a justiça acompanhando gradativamente essas mudanças. Já existem alguns julgados interessantes pelo Brasil,sempre obedecendo os critérios de avaliação para adoção(que deverão ser os mesmos tanto p/ os casais heteros, quanto p/ os homoafetivos) o que deve prevalecer é o melhor interesse do menor e não o "pré-conceito" de alguns. Beijos

Tuka Siqueira disse...

Querem aprovar uma lei que diz que preconceito e discriminação contra homossexuais é crime, mas impedi-los de adotar legalmente uma criança não é discriminá-los? Então venceu a lógica além da razão.

BAUER disse...

Acredito que se deva inventar uma nova palavra para 2 pessoas do mesmo sexo que decidam viver juntas e não CASAL, que deve ser somente para 1 homem e 1 mulher. Quanto o direito de adotar uma criança, acho correto a Justiça assim o determinar, mas com o devido acompanhamento psicológico da mesma, afinal acredito que seja muito para cabeça de uma criança ver outras com pai e mãe e ela não ter um deles e ter que explicar isso.

BAUER disse...

Respondendo ao JUBARULHO:
Embora eu tenha minhas convicções decorrentes de alguns problemas ocorridos na infancia devido a falta de um pai,parabenizo pela sua ótima opinião e concordo plenamente com a permissão de adoção de nossas crianças que merecem ter uma familia e futuro.

Anonymous disse...

Nunca entendi porque as pessoas se incomodam tanto com a vida sexual alheia.E preferir deixar crianças e jovens entregues ao Estado,dentro de uma Febem da vida (sei que mudaram a sigla,mas continua a mesma bosta) ou num orfanato qualquer, ao invés de permitir a adoção por gente de bem, é duma crueldade sem tamanho. O problema do abandono atinge as crianças institucionalizadas e é mais grave ainda,qdo. se trata das que estão nas ruas. Fico feliz por esta criança,mas lamento por todas que continuarão condenadas a uma vida de privações,de toda ordem,em razão de terem nascido num país dominado pela corrupção. Aquele abraço e obrigada pelo blog! Marcia de Noriê

Anonymous disse...

Sobre o assunto leia o que prevê o PROJETO DE LEI Nº 7018/2010, que veda a adoção de crianças e adolescentes por casais do mesmo sexo. http://migre.me/vAnA

Anonymous disse...

Constrangimento é viver apanhando como a menina adotada por uma procuradora.

Jean Marks disse...

Você está certo, a adodoção deve ser feita a partir da capacidade que os pais tem de dar uma vida feliz para a criança não não a sexualidade.

SukaTsu disse...

Tenho muitos amigos gays. Aliás,a maioria dos meus amigos é. E são todos pessoas íntegras, inteligentes, cheias de qualidades e de defeitos, como eu e como os meus amigos hetero.
E, talvez por sofrerem tanto preconceito e rejeição, são pessoas tão amorosas, tão dispostas a compartilhar.
A Justiça não fez favor nenhum a ninguém. Simplesmente cumpriu oseu papel.
Sem dúvida alguma, a garota que estava sendo vítima de maus tratos por parte da arrogante procuradora que foi denunciada essa semana, estaria mais segura e feliz com um casal homossexual assumido, desencanado e feliz.
Mais uma vez um texto direto, correto e inteligente.
Sou sua fã.
Bjs

Debora disse...

Olá!
Primeiro, gostaria de dizer q adoro a forma extremamente racional q vc vê e fala sobre tudo. É simples assim, prático!!
Diria q concordo com "89%" do seu texto... Não concordo MESMO com o fato de haver prioridade aos casais hetero. Deve haver uma fila e ponto.
Se preocupar com o fato da criança ter q se explicar aos amiguinhos ou a sociedade p/ mim nao é argumento. Qtas coisas temos q rebolar na infância p/ explicar aos outros? Essas crianças, como todos, tbem terão q passar por isso: "No q a sua mae trabalha? Pq vc não tem carro? Pq vc não é magro? pq vc é orelhudo? ih... ela não tem pai..." sabe, são mtas coisas q passamos, q uma informação a mais nao será problema se ele tiver pais ou mães em casa que o amem muito e lhe cubram de carinho.
A situação dessas crianças é muito triste e criança é sagrado! Elas só precisam de cuidados basicos e muito carinho.
Só mais um comentario, só acho q o processo deve ser, além de agilizado, aprimorado! Como pode aquela procuradora ter conseguido adotar um bebezinho? Isso é um crime! Revoltante...
O seu texto está espetacular, sem preconceitos e é tudo o q muita gente gostaria de falar e não consegue.
Parabéns!

Anonymous disse...

Peço licença para voltar ao tema, em razão da manifestação do operador do direito (alcunha moderna,mas titulares ainda conservadores).Primeiro,nunca deu certo misturar o Estado com religião.No caso, ele se refere à católica e a história da humanidade é repleta de exemplos nefastos desta relação promíscua entre Estado e Igreja.O mais recente diz respeito aos crimes sexuais, perpetrados por padres,contra crianças e jovens, em várias partes do planeta. De outra parte, acho que a questão é mais simples do que parece,qdo. os espirítos estão desarmados.Deveres iguais, logo direitos também. Discriminação é sempre um retrocesso, que fere de morte a busca por uma sociedade evoluída, cujo pressuposto deve ser a inclusão.Márcia de Noriê

Rodrigo[NightSpy] disse...

Concordo, porem, como em quase tudo na sociedade, principalmente a Brasileira, as consequências são tratadas de forma mais intensa ao invés da causa.

Alguem se perguntou, porque existem tantas crianças nas ruas, largadas, em orfanatos, febem, etc...?? Creio que a solução para este problema é muito mais díficil, mas ao mesmo tempo muito mais importante do q quem pode ou não adotar...

Não é uma crítica ao texto, que realmente esta bem escrito, e concordo, mas sim uma crítica a forma como nossa sociedade tenta soluciar todos os problemas..sempre pelo fim e nunca pelo começo do mesmo.

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