segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Preconceito!

Outro dia eu estava conversando com um amigo e pronunciei a sentença definitiva: a palavra "preconceito" é uma pobre violentada. Mais explorada do que empregado que trabalha como escravo em fazenda de político, ela é usada para obterem lucro qualquer tipo de debate.

O seu uso indiscriminado, tal qual acontece com antibióticos, criou uma nova cepa bactérias intelectuais resistentes ao pensamento.

De palavra pesada e com forte cunho negativo, tal qual "canalha!" ou "petista!", ela foi perdendo sua força, seu significado, de tanto que foi pronunciada para acusar, definir ou justificar tudo, desde a liberação feminina até o direito das pessoas criarem favelas onde deveriam haver árvores, passando por marcas de roupa, tabuleiros de xadrez com sua polêmica mistura preto/branco e até pelo gosto pessoal dos indivíduos.

Diga qualquer coisa que saia do bolo disforme e bege-acinzentado da opinião politicamente correta e fatalmente vai aparecer alguém te chamando de preconceituoso. Bonito hoje em dia, "legal" hoje em dia, é você ser tão contundente quanto pode ser a frase "gosto de verde, mas respeito o amarelo e não deixo de apreciar o valor de todas as demais cores e suas matizes".

E até isso já pode ser ousado demais, visto de você falou de "cores", o que pode ser confundido com "raças" - que aliás não existem, a não ser na hora que se prestam a justificar políticas de cotas e estatutos "raciais" - e isso é polêmico além do necessário.

Uma vez eu disse que acho o cinema nacional atualmente um mero amontoado de capítulos de novelas e séries da Globo em tamanho extra-large. Não demorou nem 5 minutos e apareceu um feliz membro da sociedade que não diz o que pensa me alertando: "olha o preconceito...".

Quase que ouvi a turma atrás dele fazendo um "búúúú!" pra me assustar e me tirar do lado negro da força, desse culto quase satânico do qual participo chamado "pensar e opinar". E a praga vale para tudo, tudo. Faça um teste você mesmo e descubra que qualquer coisa que você pense, qualquer opinião que você tenha, qualquer preferência que você cultive, serão tratados como "preconceito" se não vierem acompanhados de desculpas prévias.

Sua opinião precisa ser forrada por um colchão protetor que ajude com que ela não ofenda ninguém, funciona assim: "Gostaria de dizer que prefiro a Coca-Cola Light, mas isso não quer dizer que eu tenha algo contra obesos ou pessoas que prefiram tomá-la com açúcar e nem que isso seja algum tipo de manifestação pró-diabéticos, o que poderia ofender quem sofre de hipoglicemia".

Se você disser simplesmente "A Coca Light é a melhor bebida do mundo" pode apostar que vai aparecer um pentelho maldito te dizendo "Qual o preconceito contra o nosso brasileiríssimo guaraná?".

"Não curto cinema nacional" Preconceito! "Não gosto de samba" Preconceito! "Não gosto de cerveja" Preconceito! "Detesto funk!" Preconceito! "

Será que já passou pela cabeça desses chatos que, só de leve, pode ser que os outros tenham opinião? E mesmo que a tal opinião não seja do seu agrado, ela não necessariamente estará explicitando algum "preconceito", mas simplesmente essa avis rara da nossa sociedade nivelada por baixo, chamada "opinião"?

Confesso que um dos únicos preconceitos que eu tenho é contra quem usa o argumento do "preconceito" para discordar de qualquer coisa que os outros digam, seja sobre um clube de futebol, seja sobre uma cidade, seja sobre o sabor preferido de sorvete. Sim, porque o ideal da sociedade dos "tolerantes" é o dia em que a opinião pessoal das pessoas se resumir a dizer qual é o seu sabor preferido de sorvete.

O mal do politicamente correto aliás é esse: ele é intelectualmente imbecil, socialmente emburrecedor e definifivamente insuportável.

É um verdadeiro sorvete na testa.

3 comentários:

Tuka Siqueira disse...

Preconceito= pré + conceito ou seja, uma idéia ou opinião concebida antes que se conheça determinada coisa ou pessoa. Se você conhece, analisa e não gosta, é porque se todo mundo gostasse das mesmas coisas seríamos todos iguais, usaríamos o mesmo corte de cabelo, a mesma roupa, o mesmo sapato... Gostar ou não gostar de algo é direito de qualquer um, e defender suas opiniões também.

Anonymous disse...

Eu sofro de pós-conceito. Depois que tenho contato com certas porcarias me reservo ao direito de nunca mais querer saber delas. Isso não é preconceito. É juízo mesmo.

merry disse...

Gostei do post, adorei a foto, dá até vontade....rs

Postar um comentário

 
Template by: Lawnys Templates