quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A fábrica brasileira de escândalos e esquecimentos

Escrevi o texto abaixo há mais de um ano. De lá pra cá, violaram o sigilo da filha do Serra, o PAC emperrou, a Erenice colocou o filho dela para ganhar dinheiro às custas da Casa Civil, o José Dirceu reapareceu reclamando do "excesso de liberdade" da imprensa brasileira e, curiosamente, tudo escrito aí continua no mesmo lugar onde esteve: o olimpo da impunidade.

O Rio Amazonas é considerado o maior rio do mundo. Sua extensão ganha do Nilo em mais ou menos 100 km e seu volume de água também supera o gigante faraônico lá do Egito.

Dizem que a sua força, que faz o espetáculo da pororoca e leva água doce quilômetros mar adentro, não vem de um declive acentuado, pelo contrário, o Amazonas é monótono e desce poucos metros por quilômetro.

A força de sua água vem da quantidade de água que vem sempre atrás, empurrando para frente aquele verdadeiro rio-mar, deixando tudo pra trás em velocidade incrível (eu já estive lá e posso atestar: é uma velocidade de dar medo).

Não. Este não é um texto sobre geografia, sobre a necessidade da preservação das águas e nem sobre o Festival de Parintins.

É sobre o Brasil mesmo e sobre a monótona capacidade que nosso país possui de substituir um escândalo pelo outro, empurrando para o oceano os "velhos" escândalos, no seu igualmente monótono trajeto descendente.

Alguém sabe, por acaso, que fim tiveram os "anões do orçamento"? E a galera da "Máfia dos Vampiros"? O caso da hemodiálise assassina do Nordeste? E o lobista brasiliense que sustentava a amante do Renan e que tem fortuna incalculável?

Pra quem é carioca, alguém sabe das contas dos "Rios-Cidade" do Cesar Maia? O Sérgio Naya até morreu, mas e o pessoal que viu suas vidas desabarem no Palace II?

O filho do Lula que, depois que o papai entrou na presidência, virou milionário? Os envolvidos no mensalão, a "República de Alagoas", o loteamento de delegacias para virarem caixa registradora de propinas que a família Garotinho patrocinou? A Cidade da Música do Cesar Maia e o seu "legado do Pan"(esse aliás, é campeão)?


Posso gastar linhas e linhas aqui com o Sarney, Collor, Renan, com a política do Espírito Santo que é igual a uma "Chicago Tupiniquim", o "Zé" Dirceu, Celso Pitta, Maluf, o "Caso Luiz Estevão", o juiz Lalau, Banco Santos, Mesbla, dólares na cueca, é tanto escândalo que ganhamos até verbete na Wikipedia .

Dizem que o brasileiro tem "memória curta", o Lula mesmo disse que "tudo acaba caindo no esquecimento mais dia menos dia". Mas não creio que seja isso.

Acho é que o brasileiro não tem "hardware" disponível no seu cérebro para memorizar tantos escândalos e basculheiras que seus mandatários proporcionam. Brasília é como a nascente do Amazonas, continua enviando mais e mais escândalos em proporção quase geométrica e assim o cidadão não tem tempo nem de entender um, enquanto outro quentinho já está saindo do forno.

No país que se orgulha de possuir o "maior rio do mundo", o "maior estádio do mundo", a "maior festa popular do mundo", podemos nos orgulhar (ligue a ironia aqui, por favor) de possuir a "maior fábrica de ladrões, corruptos e escândalos do mundo".

Não tem quem aguente! Se até o oceano pede arrego e admite que a água doce adentre quilômetros nos seus domínios, não seríamos nós, meros cidadãos, eleitores e contribuintes, que poderíamos enfrentar tamanha enxurrada de safadezas memorizando-as uma a uma, sob pena de atentarmos contra nossa própria saúde mental.

Não é o povo que tem memória curta, é o Planalto e os demais palácios nada nobres que pensam que a nossa paciência não tem limite.

E até aqui, infelizmente, eles estiveram certos.

Um ano, porém se fossem 10 ou 100 todas as palavras ditas serviriam igualmente, só o que muda são os escândalos e os gatos gordos neles envolvidos.

4 comentários:

GREGÓRIO disse...

Muito bom o seu texto, sem defender A ou B, imparcial.Um abraço.

Anonymous disse...

Muito bom o texto, com argumentos e idéias muito bem desenvolvidas.
Abraço.

Rosângela Monnerat disse...

Oi Marcus,
Não sei ler palavra boa sem que me cocem as mãos. Estranha condição da minha vida; coço-me às palavras.
Então, para bom entendedor, acho que basta.
Inteligente e oportuna a sua matéria aqui.
Em síntese, seu texto não difere do texto que solapa este lugar em direção ao mundo. Mas cada qual insere sua oposição nesta viagem insólita, enquanto nos resta, heróica, esta liberdade.
Gostei da imagem das águas que se insinuam levemente decadentes, apesar de caudalosas, e a despeito da nascente imunda. Não porque me provoque gosto o drama que encerra, mas pelo o que a metáfora me fez pensar.
O nosso rio ainda não parece desistir do seu rumo. Porque, dentre outras causas, a sua natureza não é de fundo falso.
Em algum momento submerge o que bóia sem razão, em algum momento do curso em desenvolvimento, em meio ao volume de escórias.
E aí, o sobrevivente, é alguém que nos conta a história, repetidas vezes, até que nos resgata a lucidez.
Parabéns pelo texto!
Gostei de descobrí-lo no meu Twitter, me seguindo. Fiquei no lucro!Passei a lhe seguir também.
Abração!

Tuka Siqueira - Ktralhas disse...

Infelizmente vc esta coberto de razão, não somos nós que nos "esquecemos" dos escândalos, eles é que sobrepõem à uma velocidade alucinante, não dando ao povo a chance de sequer conhecê-los o suficiente antes de um novo ser deflagrado.
Será que um dia terão misericórdia de nós, pobres mortais?

Abraços

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