quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Coliseu das Massas

Mesmo parecendo, este título não tem nada a ver com o restaurante do mesmo nome no centro do Rio. Ele tem mais a ver com o Coliseu de Roma mesmo e em seus áureos tempos.

Curiosamente o restaurante homônimo oferece o tal "rodízio de pizzas, massas e petiscos", uma verdadeira bomba intestinal, um entupimento de artérias servido no prato, com direito a azeite, catchup e mostarda.

Mas não pensem aqui que virei adepto da "comidinha saudável", nada disso. Uma junk food de vez em quando faz bem ao humor. Longe de mim me tornar um desses veggans chatos.

Mas não é pra pegar no pé e zuar os veggans que resolvi escrever isso, é pra falar sobre o enxame de gafanhotos que sempre aparece nesses rodízios, que acabam vendo seus pisos engordurados transformarem-se numa verdadeira arena de gladiadores, com garfos, facas e pratos como escudos.

Domingo passado quis comer um macarrãozinho a bolonhesa e fui num restaurante que serve os "pratos rotativos" perto da minha casa. Calculei "12,90 mais a grana do refrigerante, sai mais barato que um Spoletto, vou, como meu macarrão e pronto".

Sem querer fazer pose, mas já fazendo, levei um livro do tio Nelson Rodrigues pra ler comigo, já que ia sozinho mesmo naquele templo da gulodice e da adiposidade.

Mas o que vi ali foi páreo para o tio Nelson. Fechei e guardei meu livro e me dediquei observar o ambiente em volta enquanto esperava pacientemente que o garçon entendesse que eu não queria lasanha de prestígio e nem pizza de sushi e sim um simples e prosaico maracarrão com carne moída.

Pois bem, a primeira visão foi dos adolescentes aos berros, fazendo ali a sua "night" como bem observaram pra mim no Twitter quando comentei sobre o assunto. Aquele monte de hormônios domados pelos pais, e ainda inaptos a frequentarem boates e darem vexame vomitando tudo o que bebem porque ainda não aprenderam a beber são descarregados ali, entre uma fatia de calabreza e um calzone voador.

Adolescentes deveriam ser contratados pelos restaurantes de rodízio, porque tornaram-se uma espécie de Mickey Mouse daquela Disneylandia dos glutões.

Assim como vamos à Disney passear e vomitar nas montanhas russas e ver o Mickey, garanto que tem muita gente que vai pros rodízios de massas só pra vomitar pizzas depois e ver a gritaria dos espinhentos. Se colocar uma grade em volta o restaurante fatura um extra cobrando ingresso e tudo.

Depois são as "senhoras casadas, seus esposos e sua prole".

Olho pra porta e de dois em dois minutos vejo o mesmo casal entrando. O marido com aquela cara de tédio do domingo à noite, uma barriguinha saliente que os pastéis de forno e a cerveja durante o futebol acumulam com o passar dos anos e ao lado a "patroa".

Antes de ser a "patroa" ela já foi a "gatinha" e a "gostosinha", a "tesudinha" e até "meu amor". Hoje ela é a patroa.

A patroa chega e põe ordem na mesa: o mais velho do lado do pai, o caçula do lado dela pra poder ser devidamente alimentado. Come com a mesma voracidade com que distribui sopapos nos moleques que passam o jantar brigando, e o marido? O marido tem os olhos fixos na TV, vendo os "gols da rodada" e só desviando dali pra dar uma conferida na bundinha da adolescente que saiu da jaula pra ir no banheiro tirar o molho de rondelli que o "colega" jogou na cabeça dela "de brincadeira".

A variação do marido e patroa é o casalzinho de namorados. Ninguém quer conquistar uma garota e a leva para um rodízio, para testemunhar você em seu estado mais básico, então os casais ali invariavelmente tem algum tempo de relacionamento.

O rapaz está lá comendo a pizza antes ou depois de consumir a namorada e ela, pela cara que faz, parece estar pensando "quando ele queria me comer, não me levava em rodízio de massas toda semana".

Os últimos "personagens de rodízio" que observei são as "turmas". Sim, as turmas. Eles não são tão novos quantos os adolescentes mas também nem tão maduros quanto a patroa e o marido.

Digamos que eles sejam parecidos com o casal de namorados, só que encalhados ou melhor, "desencoleirados".

As turmas tem números variados de integrantes. Podem ser 4, 5, 10 e tem até turmas de só 2. Geralmente falam alto e tudo o que dizem, parecem dizer para o restaurante inteiro. Falam uma bobagem e olham em volta, pra ver se causou alguma reação.

Sua mesa geralmente é "animada", cantam e até invadem o parabéns alheio, aquele mesmo "parabéns pra você" que está matando o aniversariante de vergonha em alguma mesa próxima.

Se por acaso faltar luz no restaurante por alguns segundos, todas as "turmas" viram uma turma só. Uma beleza!

E como todos comem! Parece que todo cêntimo de real daqueles R$12,90 precisam ser justificados com uma garfada cada um. A impressão é que o lema ali é "comamos como se não houvesse amanhã!".

E como seguem o lema! Se fossem camelos estariam armazenando comida no bucho suficiente para cruzar o Saara umas 4 ou 5 vezes, ida e volta.

Pratos e pratos entupidos de batatas fritas, frango a passarinho, massas variadas e pizzas com sabores tão heterodoxos como vatapá, strogonoff e, pasme, churrasco.

Todo mundo no final abrindo as braguilhas, afrouxando os cintos e separando a graninha do sal de fruta.

Cheguei a ficar com medo de levantar o braço para pedir a conta e devorarem algum dos meus dedos por engano, sabem como é, no Coliseu de Roma praticamente ninguém estava a salvo das feras.

1 comentários:

Daniela Pedrinha disse...

Hahah amigo querido eu ri só de imaginar essas cenas que vc descreve com tantos detalhes.. impressionante como as coisas são assim mesmo. A Parmê não foge à regra, aliás, acho que nenhum restaurante rodízio foge.

Tenho uns amigos que adoooooram rodízio e vão nesse lema mesmo: "comam pq amanhã pode acabar tudo", "tô pagando, então vou dar um preju para o dono do restaurante" e por aí vai.

No final é engraçaod observar essas turmas... mesmo qdo estamos no meio delas. Abafa! Beijo

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