sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A fila anda

Dizem por aí que o maior afrodisíaco que existe é o cheiro da "andada de fila". Não sei se é mesmo, porque também dizem que ostras são afrodisíacas. Mas elas não têm pés, logo não podem metê-los nas nádegas de ninguém, então creio que se não for realmente o maior afrodisíaco de todos, a andada de fila é pelo menos o mais difícil de esquecer.

Quando eu era mais novo - rá-rá, jamais direi que não mais sou novo - costumava observar nas "noitadas" as pessoas e tentar identificar as "Madalenas Arrependidas". Era fácil: bastava alguma música mais romântica começar a tocar que as madalenas iam pra algum canto, abraçavam algum amigo, ficavam com aquela cara de cachorro que comeu a torta, lamentando algum amor perdido.

Tudo bem que a música acabava, a agitação voltava e eles retomavam os trabalhos de "pegar geral", mas ali, naquele momento de melancolia, a pessoa perdida talvez estivesse se vingando sem saber de tudo o que sofrera. Sim, porque raramente a pessoa que sofre fica se lamentando por muito tempo depois do rompimento, só o algoz.

O algoz fica pensando que poderia ter sido mais legal, que poderia ter testado menos a paciência alheia, ter mais tolerância, ter deixado o outro menos sextas-feiras em casa com cara de tacho pra ir pra "night", enfim, poderia ter valorizado um pouco mais, justamente para não perder.

Porque se você for pensar bem, é verdade quando dizem que todo relacionamento tem uma vítima. Não existe democracia ou igualdade no amor, alguém sempre leva uma parte maior e melhor. Erra quem pensa diferente. Mas isso não pressupõe que alguém leve tudo e o outro não leve nada.

Porque quando isso acontece, não ocorre um rompimento, mas uma libertação. Se você deixava sua namorada em casa no final de semana para ir para a boate "beijar na boca", se você negligenciava seu namorado para ir "zoar com as amigas", se você achava difícil dizer "eu te amo" mas tinha a maior facilidade para dizer "eu te detesto", me responda: ele ou ela sentirão falta do que, quando vocês não estiverem mais juntos? Das suas ausências? Da sua falta?

E aí, quando a "fila anda", o cara fica desnorteado, afinal, não terá mais aquela menina o esperando em casa, no dia seguinte da noitada, para ir num cineminha. A menina perde o chão, porque o "namorado bonzinho" saiu fora e não tem mais ninguém pra chamar de "seu".

Nesse momento, dois caminhos são percorridos por quase todo mundo, tanto vítimas quanto algozes.

Um leva para o supermercado dos relacionamentos efêmeros, para mais pegações, para ficar com mais e mais gente e se vingar do mundo. É aquela pessoa que diz "agora vou usar todo mundo, vou ser coldheartbraker".

O outro leva para a lamentação, a recomposição e a decisão de dar mais valor a si, ao outro e ao relacionamento. O algoz vai tratar a pão de ló o que aparecer pela frente, talvez trocando de posições, talvez dando valor a quem não merece.

A vítima vai se valorizar, às vezes exagerando na dose, às vezes não.

A verdade disso tudo é que todos os relacionamentos nos tornam alunos e professores, todos nós preparamos uns aos outros para o que vem no futuro, até que consigamos algum equilíbrio que nos permita ter relacionamentos mais maduros e duradouros.

E assim seremos felizes para sempre - ou quase sempre - até que chegue a hora de aprender algum truque novo.

3 comentários:

Pati Georg disse...

A fila anda mesmo... E quando o pé foi dado por nós e não as nádegas é bem fácil caminhar! Quando é o contrário geralmente demora um tempinho pra sanidade voltar ao normal, mas quando isso acontece geralmente percebemos que não perdemos nada!!! A fila vai continuar andando.. se não pra mim, nem pra você.. Mas sempre tem alguém que vai estar passando por isso! É por isso q eu digo que relacionamento é coisa de profissional! rs

Tuka Siqueira disse...

Faz tanto tempo que a minha fila não anda que já não sei mais que gosto tem isso...

Anna Clara L.Murad disse...

Nos movemos num mundo de escolhas,infelizmente fila anda mesmo...principalmente se idealizarmos "amor perfeito",que até existe,mas nos jardins.É uma florzinha bem delicada,simples e que requer zelo.
Se o amor não for livre,no sentido de ir além,vira cativeiro;então fila anda...
Porque amor tem que promover,não reter.
Penso que amor e liberdade são duas vigas de sustentação para qualquer relação que no mínimo,pretenda ser respeitosa.
Senão amigo,infelizmente fila anda...
Bjks,Marcolino!

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